Conheça as quatro espécies de cobras mais letais da Amazônia brasileira

Por Michelle Portela, especial para o ATUAL

MANAUS – O caso do jovem em Brasília, no Distrito Federal, picado por uma cobra naja e posteriormente preso acusado de participar de uma rede de tráfico de animais silvestres acirrou o interesse dos brasileiros pelo tema. Mas, assim como em outros lugares, as cobras da Amazônia mais destilam o seu veneno para predar os animais dos quais elas se alimentam do que para se proteger dos humanos que invadem os seus habitats naturais ou as mantém em cativeiro de forma ilegal.

Consultora desta reportagem, a bióloga Luciana Frazão Luiz, doutora em Biodiversidade e Biotecnologia pela Bionorte (Rede de Biodiversidade e Biotecnologia da Amazônia Legal), ressalta que, no geral, cobras não são perigosas.

“Mesmo as peçonhentas só acabam picando um ser humano quando se sentem ameaçadas, ou seja, para se defender. Porém, o veneno das cobras peçonhentas tem como principal utilidade auxiliar essas cobras em predar os animais das quais elas se alimentam”, explica.

Além disso, estes predadores cumprem importante papel nos ecossistemas locais, fundamentais para o equilíbrio ecológico da natureza, sendo responsáveis pelo controle das suas presas favoritas, entre elas, roedores de pequeno porte.

Mas, de fato, está no poder do veneno a maior expectativa quanto ao potencial farmacológico, cujas substâncias podem gerar compostos para medicamentos.

“O remédio Captopril, por exemplo, utilizado para o controle de pressão arterial, foi desenvolvido a partir do veneno de uma cobra do gênero Bothrops, o mesmo da jararaca-do-norte! Atualmente também é comercializado um adesivo cirúrgico, que substitui as suturas tradicionais, testado com sucesso para colar pele, nervos, e até mesmo na cicatrização de úlceras, como as causadas pela diabete”, diz Luciana.

A pesquisadora afirma que as cobras devem ser pensadas não apenas como estes animais que oferecem riscos, mas que também podem trazer benefícios à população.

“Só com esses medicamentos, as cobras já salvaram muitas vidas, ou seja, tomando cuidado e mantendo o respeito, é possível conviver de forma harmoniosa com esses animais e investindo em ciência e pesquisa, podemos ainda gerar medicamentos que podem salvar vidas”.

Confira as cobras mais perigosas:

Na Amazônia brasileira, existem dois grupos de cobras peçonhentas que são consideradas de interesse médico, mas que trazem algum risco para os seres humanos: os viperídeos, cobras da família Viperidae, que são a Jararaca, a Surucucu e a Cascavel; e os elapídeos, cobras da família Elapidae, e são as cobras-corais verdadeiras.

Cobra Jararaca
Dentre as espécies de Jararaca, a mais comum é a jararaca-do-norte (Foto: Alexandre Almeida/Divulgação)
Jararaca

É considerada a espécie que ocorre mais comumente na Amazônia devido à alta abundância e também por ser uma espécie que tolera ambientes modificados, como nas proximidades de cidades e fragmentos florestais.

É uma espécie que pode chegar até 2,1 metros de comprimento.

As jararacas são animais considerados mais ativos no período noturno e frequentemente encontradas próximo à corpos d’água, como igarapés.

alimentam-se quando adultas principalmente de pequenos mamíferos, como ratos.

uma das formas de prevenir acidentes com esse animal é manter o ambiente da habitação limpo e livre de entulho, pois lixou atraí tempos, que atraem as cobras. Além disso, os entulhos são vistos por elas como locais de esconderijo.

Cobra Surucucu
a espécime Lachesis muta ou Surucucu tem um dos venenos mais letais entre as cobras das Américas (Foto: Sérgio Marques/Projeto Sisbiota)
Surucucu

A Surucucu é a maior cobra peçonhenta das Américas. “Isso por si só acaba causando pânico nas pessoas”, lembra a pesquisadora Luciana Frazão

“Porém esse animal está associado a matas de floresta primária, ou seja, áreas muito bem conservadas. Também é importante dizer que são animais que ocorrem pontualmente nessas florestas, o que dificulta o encontro desses animais, mesmo para quem trabalha com eles”, ressalta Luciana.

E por ser um animal de grande porte, o risco maior do envenenamento se deve por ela poder injetar uma grande quantidade de veneno na presa, devido ao porte do próprio corpo. Esses animais podem alcançar até 3,5 metros de comprimento.

Cobra Cascavel
Principal característica da cobra Cascavel é o chocalho na ponta da cauda (Foto: Anderson Rocha/Inpa)
Cascavel

A cobra cascavel se diferenciam dos demais tipos de cobras porque possue um chocalho na ponta do rabo, que funciona como um verdadeiro sinal da sua aproximação.

Trata-se de um dos venenos mais perigosos, o que faz com que ela ocupe o primeiro lugar em mortes causadas por mordidas de cobra no Brasil.

Na Amazônia, esses animais têm hábitos noturnos, principalmente por conta das altas temperaturas durante o dia.

Dentre os efeitos dos diferentes tipos de veneno das cascavéis, estão a paralisia, insuficiência renal e respiratória, dores musculares e urina escura, hemorragia e sangramentos.

Cobra Coral
Dentre as espécies de corais-verdadeiras que ocorrem na Amazônia, podemos citar Micrurus spixii (Foto: Projeto Sisbiota)
Corais-verdadeiras

As espécies dos gêneros Micrurus e Leptomicrurus, possuem pouquíssimos casos de acidente ofídico. Isso se deve por essas espécies terem um comportamento bastante tímido.

Elas costumam se locomover por baixo das folhas secas do chão da floresta e até mesmo no solo. Isso faz com que os encontros com os seres humanos sejam raros, e geralmente o acidente ofídico ocorre quando elas são pisadas ou tocadas sem querer.

“O que poderia ser evitado caso as pessoas se protegessem ao andar na floresta, usando botas ou calçados fechados e olhando antes de colocar a mão em algum lugar”, avalia a pesquisadora.

Quando for picado…

Quando ocorre o acidente ofídico é importante lavar o local com água e sabão e encaminhar a vítima para o hospital mais próximo e, se possível, levar uma foto da cobra que causou o acidente (ou mesmo a cobra, se ela foi morta). Isso ajuda no tratamento, pois as cobras apresentam diferentes tipos de veneno.

Por exemplo, as jararacas apresentam veneno com atividade proteolítica (inflamação aguda, podendo causar necrose no local), coagulante e hemorrágica.

Já as corais-verdadeiras apresentam veneno com atividade neurotóxica, que em casos mais graves, tem risco de insuficiência respiratória para quem foi picado.

Por isso, a identificação da espécie é importante para que o soro específico seja administrado.

Não são recomendadas medidas que possam retardar o diagnóstico correto, como ingestão de chás e afins, que possam confundir os sintomas.

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